"As crianças não são adultos em miniatura e têm características específicas, que as tornam mais vulneráveis num acidente de automóvel!
A diferença mais determinante é o tamanho e peso da cabeça –
que representa cerca de 25% do peso do corpo – combinada com um pescoço ainda
frágil. Estas características levam a que, ao transportarmos uma criança no
automóvel de frente para o trânsito, o movimento da cabeça possa provocar
lesões muito graves e por vezes irreversíveis, no caso de um acidente. Se a
criança viajar numa cadeirinha (Sistema de Retenção para Crianças) de costas
para o trânsito, a sua cabeça e pescoço são apoiados uniformemente no momento
do embate.
É por esta razão que a APSI recomenda que as crianças viajem
no automóvel de costas para o sentido do trânsito até cerca dos 3 ou 4 anos.
Esta recomendação é também suportada pela Aliança Europeia de Segurança
Infantil e pela ANEC, European Voice of Consumers in Standardization,
associação europeia de consumidores. Também a Direcção Geral da Saúde defende o
transporte de crianças de costas desde o nascimento até aos 3 ou 4 anos, tendo
publicado uma Orientação Técnica sobre esta matéria.
Embora só recentemente seja possível encontrar à venda em
Portugal modelos de cadeiras que permitem transportar as crianças de costas até
esta idade, existem países (como a Suécia, por exemplo) em que a maior parte
das crianças viaja de costas até aos 3 aos 4 anos; nestes países, a mortalidade
como passageiro nestas faixas etárias é praticamente inexistente, o que
demonstra que esta é uma opção eficaz na protecção das crianças.
Mas porquê transportar as crianças de costas até aos 3 ou 4
anos?
Análise de acidentes reais
Ao longo dos últimos 40 anos têm sido realizados estudos
baseados em acidentes reais, em diferentes países. Todos estes estudos mostram
que é mais seguro transportar uma criança na posição VT (Virado para Trás),
demonstrando que a eficácia destes sistemas ultrapassa os 90% na prevenção de
lesões graves (Aldman et al., 1987, citada por EEVC, 2006; Isaksson-Hellman et
al., 1997 e 2004; Sherwood, Yasmina et al., 2006; Henary, Sherwood e outros,
2007; ANEC, 2008).
Estes estudos, nos quais se analisaram ao detalhe acidentes
com crianças que viajavam VT, confirmaram também que nenhum destes acidentes, e
consequentes lesões, decorreu de uma colisão lateral ou traseira. Viajar VT é,
portanto, a protecção mais eficaz nos embates frontais, mas também confere uma
protecção elevada nas colisões laterais e traseiras (Aldman et al., 1987,
citada por EEVC, 2006, Henary, Sherwood e outros, 2007, Sherwood, Yasmina et
al., 2006).
Ensaios experimentais
Mais recentemente, estudos feitos através de ensaios
experimentais (testes de colisão e simulação numérica) vêm reforçar os
resultados obtidos através da análise de acidentes reais, que a posição virada
para trás é a forma mais segura de transportar uma criança no automóvel, uma
vez que as forças exercidas no pescoço e peito são consideravelmente menores do
que as exercidas nas crianças VF (Viradas para a Frente), reduzindo
substancialmente as lesões (Watson e Monteiro, 2009).
Dificuldades encontradas e forma de as solucionar
Apesar de esta ser a forma mais segura de transportar as
crianças até aos 3 ou 4 anos, muitas famílias deparam-se com obstáculos para os
quais é importante encontrar soluções
a. Desconforto da criança por falta de espaço para as pernas
– as cadeiras homologadas VT até aos 18kg ou 25kg, pelo seu desenho e forma
como são instaladas no veículo, aumentam o espaço entre a criança e o banco do
automóvel, ficando a criança com espaço suficiente para as pernas;
b. Visibilidade e interactividade – é possível colocar um
espelho (tipo espelho retrovisor) perto da criança orientado de forma que o
adulto possa, através do retrovisor, vê-la; além disso, e caso o carro não
tenha airbag frontal activo, a cadeirinha VT poderá ser instalada ao lado do condutor
(como prevê o código da estrada)
c. Falta de espaço para instalação da cadeirinha VT – a
prática de terreno da APSI de instalação de cadeirinhas nos carros das famílias
mostra que, mesmo em carros pequenos, é possível instalar cadeiras aprovadas até
aos 18Kg e 25Kg VT; tudo depende do carro, sendo que a lista de veículos
compatíveis é elevada, como se pode constatar pelas informações que acompanham
estas cadeirinhas. É fundamental experimentar a cadeira no carro antes de a
comprar, para garantir que há espaço suficiente para a instalar de acordo com
as instruções do fabricante.
Para saber mais sobre este assunto:
Porque transportar as crianças de costas no automóvel
Orientação Técnica da Direcção Geral de Saúde
Outras entidades que defendem o transporte VT:
ANEC,
European consumer voice in standardisation
European
Child Safety Alliance
Rear Facing
– The way forward
American Academy of Pediatrics
NOVO ESTUDO REALÇA CONTRADIÇÃO FATAL
Lei na Europa e em Portugal não exige a melhor protecção
para crianças com menos de 4 anos
Press Release
Segurança Rodoviária - Criança Passageiro
Novo estudo confirma que no automóvel, as crianças devem
viajar voltadas para trás até aos 4 anos, para terem uma melhor protecção em
caso de acidente. Há muito que tal é defendido pela comunidade técnica
internacional. Mas essa evidência foi mais uma vez confirmada num estudo
publicado esta semana pela ANEC –
Associação Europeia de Consumidores – no qual a APSI participou enquanto
conselheira. A conclusão teve como base o estudo de acidentes reais ocorridos
no Reino Unido, Suécia e Estados Unidos. (Pode consultar o estudo integral em
www.anec.eu).
“A legislação europeia dá informação de alguma forma
enganosa para o consumidor, pois dá a ideia de que tanto faz transportar a
criança voltada para trás ou para a frente depois dos 9 kg (geralmente 8 a 9
meses), quando a comunidade técnica internacional é unânime na afirmação de que
é mais seguro viajar virado para trás até aos 4 anos”, alerta Helena Cardoso de
Menezes, consultora em segurança infantil da APSI e também da ANEC neste
Estudo."
Texto retirado de www.apsi.org.pt
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